Dando corda às sapatilhas #1

Por norma, quando se fala de S. Tomé e Príncipe, a primeira ideia que vem à cabeça é "praias paradisíacas"... e embora isso se aplique em cheio à ilha do Príncipe, esta ilha esconde um encanto muito maior por entre raízes, lianas e troncos milenares... isto, claro, para quem gosta de natureza no seu estado mais selvagem e de caminhar... caminhar... caminhar... E porque andamos maravilhados com os trilhos do Príncipe, é mesmo por aqui que vou começar!
Ora, os trilhos limpos e devidamente assinalados já são alguns e valem muito a pena, mas a nossa última descoberta deixou-nos extasiados!
Apesar do caminho ainda estar a ser limpo e preparado, não resisto a começar por aqui... é que, se vierem com pouco tempo e tiverem de optar por um só trilho, este é, na minha opinião "the one"! ;)

A nossa ida estava marcada há uma semana e a hora de saída tinha sido agendada para as 9:00... mas a época das chuvas já recomeçou e a chuva mais para temporal d'um catano decidiu dar o ar da sua graça!
Assim, reunida a malta no café, entre a espera pelo queijo que afinal não há, o fiambre que tem de ser cortado pelo gerente e que ainda não se levantou, os cafés que demoram quintilhões de tempo a vir e o "deixa-lá-ver-se-o-temporal-amaina", a hora de saída foi-se arrrrrrraaaaaaastando e, no leve leve de sempre, lá saímos da cidade pelas 10:30!
De barriguinha cheia e de impermeáveis em punho, juntámo-nos aos dois colegas malucos que já tinham subido até ao Terreiro Velho a correr. Mesmo com o ribombar dos trovões a aumentar e a chuva a cair torrencialmente, o nosso guia Mununa* afiançou-nos que era seguro avançar... e lá fomos nós!
Felizmente, a chuva deu-nos umas tréguas, pudemos apreciar a natureza em todo o seu esplendor e os estorninhos até nos fizeram uma serenata! :)

A caminhada no trilho principal (que é o trilho para a Roça Infante) não foi longo (+/- 30 min.) nem difícil, mas o corte para a cascata é imperceptível e sem nosso simpático Mununa de certeza que não teríamos dado com o caminho!
A partir daí, tornou-se um pouco mais difícil, mas com calma e alguns cuidados para não tropeçar nas raízes ou escorregar nos carreiros mais íngremes, fizemos o restante percurso em cerca de 40 minutos.
O som da água a cair foi-nos chegando aos poucos e a ansiedade para descobrir a cascata aumentava, em consonância com o grau de dificuldade da subida... mas, ao fazer a última curva, foi tão, tão bom descobrir aquela enorme cascata, com um pequeno lago aos pés, a convidar ao mergulho para sacudir a lama dos pés e refrescar o corpo transpirado!!!
É óbvio que fomos todos a banhos e ainda tivemos o bónus de termos uma sessão de esfoliação natural, com pequenos camarões do rio a vir "petiscar" nos nossos pezinhos :)

Depois de muitas fotos e já com o corpinho bem refrescado, foi altura de dar ouvidos ao sr. Mununa, que nos alertava para a trovoada que lá vinha... e não foi preciso andar muito para que o céu desabasse em cima de nós!!!
Regressámos ao Terreiro Velho debaixo de uma tempestade tropical gigantesca (o que já se começa a tornar hábito, mas isso é história que fica para outra vez), aproveitando para nos divertirmos a chapinhar nas poças e a cantar "dancing in the rain"! E, como é óbvio (e, mais uma vez, também habitual), a chuva pisgou-se mal chegámos ao carro (o sentido de humor de S. Pedro é fenomenal!).

Isto já vai longo, mas é imperativo acrescentar: o facto do ponto de partida/chegada deste trilho ser no Terreiro Velho é também um dos seus encantos, já que é um dos locais da ilha com uma das vistas mais bonita e imperdível (fica prometido uma outra publicação acerca deste "spot"!)

E se não ficaram convencidos com a descrição da nossa aventura, aqui ficam algumas imagens:

*o Sr. Mununa é um guia certificado, conhece a ilha de uma ponta à outra e é ele que está a abrir o trilho da cascata. O contacto é (+239) 996 15 85, caso este post vos tenha aberto o apetite ;)

P.S. Este trilho está para ser inaugurado, portanto é bem possível que, num futuro próximo, já esteja devidamente sinalizado ;)